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What is Performance Studies?

Diana Taylor, Author

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O que é Estudos da Performance?


O que é Estudos da Performance?

Introdução
Diana Taylor, New York University


O que é estudos da performance? É uma disciplina, uma inter-disciplina, uma pós-disciplina? Como os estudos da performance foram
institucionalizados em departamentos em todas as Américas? Como algumas dessas ideias transitam e o que acontece com elas no processo? Quais são alguns dos temas e pontos de conflito comuns, e quais são algumas questões mais locais? Este livro digital Scalar faz essas e outras perguntas para trinta importantes acadêmicos de sete países de todas as Américas. Ao fazê-lo, ele oferece à pergunta título deste livro não uma resposta, mas uma multiplicidade de vozes ativamente no processo de lidar com um campo em mutação e dinâmico a partir de diferentes posições geográficas, linguísticas e disciplinares.

Durante os primeiros anos deste projeto, Diana Taylor era chefe do Departamento de Estudos da Performance da New York University e diretora do Instituto Hemisférico de Performance e Política que ela havia fundado em 1998, juntamente com três colegas da América Latina: Javier Serna da Universidad Autónoma de Nuevo León (México), Zeca Ligiéro da UNIRIO (Brasil) e Luis Peirano da Pontificia Universidad Católica del Perú. Tanto Serna quanto Ligiéro haviam sido estudantes de doutorado em Estudos da Performance na NYU e eram professores concursados em suas universidades — uma situação comum na América Latina em uma época em que as universidades estavam ansiosas para aumentar o número de doutores em seus corpos docentes. Peirano era Diretor da Escola de Comunicação e estava interessado em promover projetos inter- e transdisciplinares. A nossa conversa na época estava focada em como criar o que chamávamos de um “corredor” para compartilhar material visual ou de vídeo, compartilhar leituras e ensinar em conjunto cursos que usassem a lente dos estudos da performance. Os estudos da performance estavam longe de serem reconhecidos como um “campo” na América Latina naquela época, então uma das primeiras tarefas foi entrevistar acadêmicos de prestígio que pudessem oferecer uma variedade de definições do que esse termo significava para eles e para o seu trabalho.

Em 2001 e 2002, Diana Taylor entrevistei cinco colegas dos Estudos da Performance na NYU: Richard SchechnerBarbara Kirshenblatt-GimblettBarbara Browning , José MuñozAndré Lepecki, e pedi que eles identificassem os princípios básicos, se é que havia, dos estudos da performance. A Barbara Kirshenblatt-Gimblett entrevistou a Diana Taylor. Essas entrevistas eram curtas, tentativas de definir um campo emergente, para serem compartilhadas com os nossos colegas latino-americanos. A ideia era colocar essas entrevistas no website do Instituto Hemisférico, e continuar a expandir a série. Livros não circulam facilmente nas Américas. Como Anabelle Contreras descreve em sua entrevista, “os livros são muito caros [...] nós fazemos fotocópias de livros, os clonamos, os escaneamos, e nós encontramos formas de fazer circular o conhecimento...”. Porém, para qualquer um que lembre o que se podia e o que não se podia fazer com a Internet no começo dos anos 2000, a circulação digital era mais fácil de imaginar do que de fazer. O departamento de Tecnologia da Informação e as Bibliotecas da NYU trabalharam conosco, e depois de alguns anos, nós conseguimos disponibilizar essas primeiras entrevistas na nossa antiga seção “arquivo”. Em 2002, nós também entrevistamos o primeiro acadêmico latino-americano para este projeto, Jesús Martín Barbero, o principal teórico de mídia e mediação da Colômbia. Mas as dificuldades técnicas para fazer o upload e colocar vídeos na Internet, junto com a extrema instabilidade do nosso website na época, fizeram com que nós desistíssemos de persistir com vigor esse projeto, embora não tenhamos nos esquecido dele.

A longa duração deste projeto, com entrevistas feitas entre 2002 e 2013 — geralmente feitas a caminho para aproveitar outras viagens e eventos relacionados ao Hemi — fica visualmente evidente quanto assistimos a essas entrevistas hoje. No período de mais de uma década, a facilidade de acesso a equipamento de vídeo de alta definição mudou muito, mas mudou também a nossa relação com a performance de gravar, fazer o upload e assistir vídeo online.

Em 2007, quando a 13ª Conferência do Performance Studies International (PSi) aconteceu de novo em Nova York, nós no Hemi decidimos retomar o projeto: Joseph RoachTracy DavisRebecca SchneiderPatrick AndersonBill Worthen e outros estavam na cidade. Marcial Goday, Diretor Associado do Instituto Hemisférico, participou do projeto. Nós também começamos a entrevistar outros convidados e professores visitantes, como Daphne BrooksKay Turner e Holly Hughes. Professores novos da NYU, como Ann PellegriniJill LaneTavia Nyong’o e a Professora Global Diamela Eltit foram acrescentados à coleção. Depois nós aproveitamos visitas de Rossana ReguilloSoledad Fallabella e Sue-Ellen Case. Uma reunião da diretoria do Instituto Hemisférico na Costa Rica em 2011 permitiu a inclusão de mais teóricos latino-americanos: Antonio PrietoLeda MartinsBeth Lopes e, pela primeira vez, os cofundadores do Hemi, SernaLigiéro e Peirano. É interessante notar que, se eu tivesse começado a entrevistar esses acadêmicos latino-americanos antes, essa conversa teria sido muito diferente — em 2001-2, o pequeno grupo de acadêmicos que trabalhavam com os estudos da performance em termos hemisféricos tinham que constantemente lembrar seus interlocutores que nós não estávamos falando de performance arte (ver Antonio Prieto). Em 2008, os estudos da performance já eram vistos como uma metodologia, uma lente, “uma atividade que acompanha a própria vida, em toda a sua dimensão...” (ver Diamela Eltit).

Desde o começo dos anos 2000, então, as entrevistas se expandiram (e vão continuar a se expandir nas próximas edições) ao mesmo tempo em que o foco e o formato continuaram basicamente o mesmo:

Depois de anos experimentando com publicações digitais, desde os primeiros “web cuadernos”, os cadernos que nós começamos em 2000, até a nossa revista acadêmica trilíngue e-misférica, o Hemi decidiu desenvolver livros digitais. O avanço aconteceu em 2009, quando nós fizemos uma parceria com Tara McPherson na USC. McPherson estava desenvolvendo uma plataforma Scalar para permitir que acadêmicos publicassem seus materiais digitalmente, pegando material de arquivos para integrar materiais multimídia em diversos formatos visuais. Embora inicialmente a parceria com o Hemi era por causa do nosso arquivo, ficou claro desde o começo que essa plataforma nos permitiria publicar nossos livros em três idiomas: inglês, espanhol e português. Os vídeos funcionam como uma âncora estável, no sentido que cada um dos “caminhos” idiomáticos têm os vídeos em comum, enquanto as transcrições e legendas permitem o acesso a leitores em todas as Américas. As tags no livro Scalar funcionam como uma espécie de índice digital — elas não só identificam os conceitos-chave mas nos levam diretamente para onde podemos encontrar esses conceitos nas entrevistas e transcrições: corporeidade (embodiment), protesto, indigeneidade, comportamento, ao vivo (liveness), (pós/de)colonialismo. Os ensaios de Tavia Nyong’o, Marcela Fuentes, Marcos Steuernagel, e o meu, contextualizam algumas dessas questões que podem ser exploradas por vários caminhos diferentes.

À medida que a tecnologia muda, então, nós encontramos mais ferramentas para trabalharmos juntos e conectarmos nossas perspectivas. Todo desenvolvimento tecnológico, porém, levanta suas próprias questões. Mesmo uma estrutura de navegação simples como as tags produz pedras de tropeço conceituais significativas e ilustra a complexidade dessa tarefa aparentemente simples. Como, por exemplo, dizer ‘embodiment’ em espanhol e português? O fato de ‘embodiment’ não existir nessas línguas (e em muitas outras) requer de nós que pensemos sobre as qualidades que se provam centrais ao termo — isto é, ‘embodiment’ = ‘o corpo’? (Corps, corpus, cadáver)? Ou se refere a um corpo que sabe, ou um corpo-memória, ou mesmo um corpo-músculo? Será que palavras como encarnação (não, soa muito católico) ou incorporação (muito empresarial?) o substituem? Que tal “puesta en cuerpo” ou “posto em corpo” — uma mise-en-corpo em vez de uma mise-en-scène? Será que o ‘embodiment’ transcende o corpo?

Podemos pensar na pergunta de Merleau-Ponty sobre se o corpo do homem cego termina na pele ou no final de sua vara. Será que o ‘embodiment’ pode se entender para a incorporialidade? Ou para o digital? Para formas múltiplas, simultâneas de corporialidade (um estado de sonho, um flashback traumático, a possessão de um espírito)? A mudança para o digital precipitou a atual atenção dada ao termo ‘embodiment’, pedindo que outras línguas adotem essa polivalência produtiva? Como a própria palavra ‘performance’, as vantagens de adotar o termo estrangeiro podem ser muito maiores do que as impossibilidades de tradução. Usar ‘embodiment’ em inglês sinaliza não apenas uma consciência cultural do corpo, mas a própria consciência de que a lente que usamos vem do inglês. Assim nós reforçamos ou criticamos uma história particular de uso. Certamente discussões sobre a tradução de terminologia são muito mais antigas, mas lidar com essas questões no nível de tags e bancos de dados força tecnologias ao mesmo tempo em que pressiona teóricos a expandirem as categorias e estruturas que estão por trás do pensamento.

Estas entrevistas, os ensaios introdutórios dos teóricos, e sim, até as tags e traduções indicam muitos pontos de diálogo e des- ou inter-conexão entre nós ao considerarmos “o que é estudos da performance?” Como Barbara Kirshenblatt-Gimblett sugere em sua entrevista, os estudos da performance são “uma ideia organizadora para pensar sobre praticamente qualquer coisa”. Esperamos que esse livro Scalar trilíngue abra novos caminhos para pensar através, em e com os estudos da performance.


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