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What is Performance Studies?

Diana Taylor, Author

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Zeca Ligiéro







Entrevista com Zeca Ligiéro (2011)

Zeca Ligiéro tem um diploma de bacharelado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1972), um mestrado e um Ph.D. em estudos da performance pela New York University. E pós-doutorado pela Yale University (2001-2002) e pela Paris 8 (2013-2014) com bolsa Capes. Ele é atualmente um Professor Titular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e coordena, desde 1998, o Núcleo de Estudos das Performances Afro-Ameríndias (NEPAA). Foi curador do Acervo Boal de 2008 a 2010. Ele dirigiu Povo de Rua com Marise Nogueira no México em 2001 e no Peru, em 2002; Desabrigo, de Antonio Fraga, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte em 2004;O palhaço negro: a história de Benjamin de Oliveira, no Brasil e na Colômbia, 2008; Noticias de las cosas passadas na Universidad Distrital de Bogotá, 2009; O Evangelho Segundo Dona Zefa, 2011-2012 e Makunaima, o Outro, 2013. Ele organizou a instalação e exibição do vídeo O Altar Interativo do Zé Pelintra em Maine, Germany em 2002, e em Nova Iorque, E.U.A., em 2003. Ele publicou: Initiation into Candomblé: introduction to African-Brazilian Religion, New York, Diasporic Africa Press, 2014; Augusto Boal: Arte, Pedagogia e Política, org., 2013; Performance e Antropologia de Richard Schechner, org., 2012;  Corpo a corpo: Estudos das Performances Brasileiras, 2011; Teatro e Dança como experiência comunitária, org., 2009; Performance Afro-Ameríndia, org. 2007; Carmen Miranda: uma performance afro-brasileira, 2006; Malandro divino: a vida e a lenda de Zé, 2004; Teatro a partir da comunidade, 2003; Iniciação à Umbanda, com Dandara Rodrigues, 2000; Umbanda: Paz, Liberdade e Cura, com Dandara Rodrigues, 1998; Iniciação ao Candomblé, 1995; Divine Inspiration from Benin to Bahia, University of New Mexico Press, Phyllis Galembo, editor, 1993.X



Diana Taylor: Zeca, muito obrigada por estar aqui conosco hoje. Você poderia falar um pouco sobre onde você trabalha, que tipo de departamento?

Zeca Ligiéro: Meu nome é Zeca Ligiéro, eu sou da UNIRIO [Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro]. Eu trabalho no Departamento de Direção Teatral, mas eu trabalho também no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UNIRIO. E tenho o Núcleo de Estudos das Performances Afro-Ameríndias [NEPAA], fundado em 1998.

Diana
: Zeca, você poderia falar um pouco sobre como as pessoas entendem o termo "performance" e o conceito de estudos da performance em relação a ele?

Zeca: Eu tenho que fazer um breve histórico. Quando eu comecei a trabalhar com os estudos da performance — eu voltei para o Brasil depois de ter feito o meu mestrado — e quando eu falava em "performance", as pessoas falavam assim: “O Zeca está muito nostálgico, ele está querendo voltar à década de 70”. Porque "performance" era entendido como performing art. Então eu fiquei meio conhecido como uma pessoa nostálgica. Mas aí, aos poucos, eu comecei a trabalhar com as tradições afro-brasileiras, com as tradições ameríndias, a trabalhar um pouco com o que a gente chama “práticas perfomativas”, ou "estudo das performances". Isso foi muito importante, também o Encuentro em 2000, isso criou um novo parâmetro para os estudos da performance no Rio e consequentemente no Brasil. Eu acho que o meu trabalho lá, e o trabalho do Instituto Hemisférico, criou uma nova forma de se pensar sobre os estudos da performance no Brasil. E hoje a gente tem uma série de núcleos de estudos espalhados pelo Brasil que trabalham com o conceito — com os conceitos, os vários conceitos — dos estudos da performance, que vão desde performing art a práticas performativas; eu trabalho muito com o conceito do Victor Turner, com o Richard Schechner, com o próprio conceito seu, Diana Taylor, enfim. Então eu acho que isso mudou muito nestes últimos anos e hoje a gente pode dizer que os estudos da performance estão implantados em várias universidades: a Universidade Federal de Minas Gerais, a USP [Universidade de São Paulo], a Unicamp [Universidade Estadual de Campinas], no Rio Grande do Sul a gente também tem, enfim. Acho que agora, hoje, pode-se falar nos estudos da performance como um novo campo, já constituído no Brasil.

Diana
: E é difícil encontrar material para as suas aulas, ou existe material suficiente sendo publicado agora, ou os trabalhos que vocês estão publicando?

Zeca: Desculpe... Ainda tem pouco material. Eu acho que tem muito material em inglês com que a gente trabalha, né? Eu publiquei em 2004 um caderno, O Percevejo
Ligiéro, Zeca (ed). 2004. O Percevejo: Revista de teatro, crítica e estética 11, no. 12.
, uma revista do nosso programa, e essa revista ainda é uma referência brasileira, onde temos artigos importantes de vários acadêmicos dos estudos da performance. Eu estou preparando uma publicação chamada Teatro e Antropologia
Ligiéro, Zeca (org). 2012. Performance e Antropologia de Richard Schechner. Rio de Janeiro: Mauad.
, que é uma coletânea dos artigos do Richard Schechner. E eu mesmo tenho várias publicações também. Este ano, estou publicando um livro que é uma coletânea de artigos meus também, deve sair em setembro ou outubro, chamado Corpo a Corpo - Estudo das Performances Brasileiras
Ligiéro, Zeca. 2011. Corpo a corpo: estudos das performances brasileiros. Rio de Janeiro: Garamond.
. E aí, estamos caminhando, né, a coisa está agora mais aberta. Leda Martins tem publicado vários artigos. A gente tem o grupo da USP, que tem feito, fez no ano passado, um encontro muito importante de antropologia e performance, o Napedra, um grupo muito importante com muitos pesquisadores. Então eu acredito que a gente agora tem realmente mais material. Ainda creio que precisa muito mais material, eu acho que... Mas a gente hoje encontra material na web também, alguma coisa em português também... Eu acho que sim.

“Os estudos da performance, mais do que um rótulo, é um processo de conhecimento. Para quem faz, é um processo de se autoconhecer, conhecer sua própria expressão. E, para quem assiste, é uma forma de conhecimento também do outro. É uma forma de conhecimento das tradições, uma forma de perceber melhor como é que essas tradições se mantém.”


Diana: Você sente alguma resistência ao uso da palavra "performance"? Tem quem queira substituí-la, por exemplo, por "espetáculo" ou outra palavra?

Zeca: Eu acho que isso ainda acontece. É interessante, porque eu estou agora fazendo um estudo sobre, revendo o Boal. E é interessante, porque a última publicação do Boal, a última fala dele quando ele recebe o prêmio, ele vai falando: uma cerimônia religiosa é teatro, os rituais do dia-a-dia são teatro, enfim. Então eu achei muito interessante isso, porque na realidade ele não usa a palavra "performance", mas ele está referindo-se não mais ao teatro ocidental, mas a uma forma de performance. Então é interessante isso. No caso, eu estou tratando o Boal também como estudos da performance e tenho encontrado muitas respostas interessantes dentro da obra dele. Mas eu acredito que ainda há resistência, sim, acho que as pessoas ainda falam: “Performance é uma palavra que não existe no português”. Até o dicionário do computador acusa "performance" e quer transformar "performance" em "representação", em "apresentação", eu tenho que toda hora ficar dizendo: Não, eu quero é performance mesmo. Acho que demora para as coisas serem absorvidas, serem transformadas.

Diana: E você sente algum obstáculo, ou alguns obstáculos, quando tenta fazer o seu trabalho sobre performance ameríndia, performance afro? Existe algum desafio específico para o seu trabalho nessa área?

Zeca: Eu acho que sim, porque quando eu uso a palavra "performance" ou "prática performativa" para me referir à tradição ameríndia ou à tradição afro, as pessoas estranham, ainda há um estranhamento. Isso eu estou usando já há doze anos, esse conceito de performance afro-brasileira, afro-ameríndia. Ainda há uma resistência muito grande. Mas, hoje em dia, já vejo isso aparecendo. Já foram realizados dois congressos de performance negra – não era "performance afro" mas era "performance negra". Então isso já está mais na ordem do dia, a palavra "performance" já sendo aplicada não só à arte como também às tradições religiosas, às tradições festivas. Então eu acho que já há uma mudança, embora haja muita resistência ainda. E há uma resistência principalmente no mundo acadêmico, vamos dizer, as pessoas mais tradicionais, mais ortodoxas, elas não gostam muito, acham que é uma coisa americanizada, que é uma coisa, enfim... Ainda há, sim. Mas a batalha é essa... Porque assim, para mim, os estudos da performance, mais do que um rótulo, são um processo de conhecimento. Então eu acho que os estudos da performance são um instrumento de conhecimento, e esse conhecimento eu acho que ele se dá em vários níveis. Eu acho que é um processo, para quem faz, eu acho que é um processo de se autoconhecer, de conhecer a sua própria expressão. Conhecer a sua forma de ser, conhecer o seu corpo, conhecer melhor a sua voz, ter a sua consciência do seu trabalho. E, para quem assiste, é uma forma de conhecimento também do outro. É uma forma de conhecimento, às vezes, das tradições, uma forma de perceber melhor como é que essas tradições se mantêm. Então eu acho que, como isso é um processo amplo, eu acho que há muito preconceito, porque as pessoas estão acostumadas a um estudo muito setorizado, muito fechado. Então: é esse campo ali, é este campo aqui. E como os estudos da performance trabalham com uma área muito ampla, que é a música, a literatura, a política, as artes visuais, o cinema, a televisão, então isso é muito amplo, e as pessoas acham que vão se perder. Então existe esse preconceito. Mas eu acho que é uma batalha, é uma batalha e a gente está vencendo essa batalha, eu creio. Eu tenho essa sensação de que durante muito tempo, no meu trabalho, eu me sentia um pouco, meio vítima, meio perseguido, e hoje eu me considero vitorioso no trabalho. Porque eu tenho um núcleo, eu tenho muitos pesquisadores interessados, cada vez mais. Eu tenho muitos alunos que procuram, que estão... E em vários campos, entende? Hoje o NEPAA abriga desde o Teatro do Oprimido, como abriga também... Temos uma rede, estamos em comunicação com uma rede de teatro de rua. Então, isso tudo é muito mais próximo da performance do que do teatro, do teatro ortodoxo, das formas tradicionais, do teatro indoor, do teatro dentro do espaço físico do teatro. E também eu tenho percebido que há um interesse muito grande nessa relação dos estudos dos rituais, das celebrações. O Brasil é um país muito rico em celebrações. E às vezes a gente não tem muitos instrumentos para estudar esses processos. Temos o candomblé, a umbanda... Agora eu estou pesquisando as celebrações do norte do país, que já misturam mais a cultura indígena. Eu estou pesquisando agora a presença dos turcos, dos árabes na Amazônia, já existe aí uma outra relação, isso já traz um outro contexto. Se você pesquisar isso historicamente, fica difícil localizar, mas se você pesquisa o ritual, você começa a perceber que, dentro do ritual, está ali aquela cultura, as tradições árabes aparecem dentro do ritual. Mas como explicar isso dentro do sentido ortodoxo da história? Os árabes chegaram à Amazônia no século XX. Mas eles talvez não tenham chegado. Que árabes que chegaram? E por que há rituais árabes na Amazônia? Enfim, há muitas questões que os estudos da performance nos permitem conhecer. Por isso que eu digo que os estudos da performance são uma busca de conhecimento, uma revelação de conhecimento, uma produção de conhecimento. Então eu acho que por isso os estudos da performance são muito importantes. Por isso eu acredito realmente na eficiência, na eficácia dele.

Diana: Muito obrigada, Zeca, isso foi ótimo.

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