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What is Performance Studies?

Diana Taylor, Author

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Beth Lopes






Entrevista com Beth Lopes (2011)

Beth Lopes é diretora teatral, pesquisadora e professora do curso de Graduação e Pós-Graduação em Artes cênicas na Universidade de São Paulo. Atualmente é Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas e Vice-Diretora do TUSP (Teatro da Universidade de São Paulo). Também é editora das seguintes revistas: Sala Preta, aSPAs e aParte XXI. Ela desenvolve pesquisas e artigos relativos ao processo criativo do ator, à performance e ao espetáculo com ênfase nos seguintes tópicos: corpo, ação, memória e o grotesco. Ela completou dois programas de pós-doutorado: o primeiro, no Brasil, sobre a presença da memória no espetáculo contemporâneo; o segundo foi voltado para a performance, sob a supervisão de Richard Schechner, no Departamento de Estudos da Performance, na New York University. Em sua prática teatral constam experiências com o Odin Theatret, com o Workcenter of Jerzy Grotovski and Thomas Richards, com Anne Bogart e SITI Company, Commedia Dell’Arte com Carlo Bosi e Stefano Perocco, Mímica na École de Mimodrame, Clown e Bufão com Phillipe Gaulier e Monica Pagneaux. Também realizou cursos com Thomas Richards e Mario Biagini (Workcenter of Jerzy Grotowski); Ian Fersley, Iben Nagel Rasmussen, Richard Flowler e Eugenio Barba (Odin Theatre), Simon McBurney (Cumplicité), Guillermo Gomez-Peña e Michelle Ceballos (Pocha Nostra), Jesusa Rodrigues, Reverend Billy, Anatoli Vassiliev, Jacques Lecoq, Diana Taylor, Hans-Thies Lehmann, Josette Féral, Beatrice Picon-Valin, Ileana Diéguez, Marvin Carlson, Patrice Pavis. Como fundadora e diretora artística da Companhia de Teatro em Quadrinhos - CTQ - (1989), ela aproxima o teatro das narrativas visuais do século 21 – a performance, as histórias em quadrinhos, o cinema, o vídeo, as artes plásticas e as novas tecnologias. Com a CTQ, com alunos da universidade e com companhias profissionais realizou cerca de 40 espetáculos, ganhando prêmios em reconhecimento pelos trabalhos. Promoveu, em 2013, no Brasil, o 8 Encontro de Performance e Política. Cidade, corpo e ação. A política da Paixões nas Américas em parceria com o Hemispheric Institute of Performance and Politics, do qual faz parte do conselho diretor. Em 2014 realizou a curadoria do Performix – Festival de Performance - com parceria da SP Escola de Teatro e do TUSP. Em 2015 realizou a curadoria do Território Cultural de Teatro, Performance e cinema, da SP Escola de Teatro.X



Marcos Steuernagel: A primeira coisa que eu queria te perguntar é se você acha que os estudos da performance se constituem como um campo no Brasil, se existe a ideia disso como uma disciplina.

Elisabeth Lopes: Eu acho que os estudos da performance vêm se constituindo mais recentemente como um campo de estudo, como um campo de saber. Eu acho que, na nossa tradição, na universidade, a performance esteve sempre mais ligada à performance arte. O campo de estudos da performance vem sendo trazido justamente pelas influências do Richard Schechner, da Diana Taylor, dos professores da NYU [New York University] que, de certa forma, vêm travando um diálogo com as universidades brasileiras e vem ampliando esse campo, que acho que não é um campo unitário. Não é um campo que se define por uma unidade, mas é um campo que se define mais pela regularidade. Então, acho que regularidade de informações, de objetos, de conceitos. Então, eu acho que dessa forma este campo vem se ampliando e a performance arte vem se tornando um dos objetos dentro desse campo que é uma espécie de guarda-chuva que abriga diferentes possibilidades de análise e de pesquisa.

Marcos: E como é a situação dentro da USP [Universidade de São Paulo] ou dentro de outras instituições acadêmicas que você conhece? Existem cursos de estudos da performance ou matérias de estudos da performance, ou onde esses assuntos são discutidos?

Beth: Na USP, especificamente, tem um grupo de pesquisa que se chama Napedra, com quem eu tenho um forte relacionamento, que faz uma abordagem mais específica entre teatro, ou "drama", como eles chamam, e antropologia. Teatro, drama, performance e antropologia. Esse é o núcleo mais forte, mais potente dentro da USP. No meu departamento, que é um departamento de artes cênicas, mais recentemente vem absorvendo diferentes abordagens conceituais. Principalmente porque o teatro, como uma vertente estética vem também se ampliando, se estendendo para um campo artístico mais amplo. E voltado mais para o social. Na pós-graduação do Departamento de Artes Cênicas nós temos recebido estudantes com interesse em pesquisar a relação entre teatro e comunidades indígenas, por exemplo, entre teatro e religiões afrodescendentes, entre teatro e prisões e a relação pedagógica, educativa e social em prisões, em comunidades como a FEBEM, a prisão para adolescentes, ou espaço de detenção para adolescentes. Então, recentemente, existe um movimento, cada vez maior voltado para um teatro que se prolonga para uma perspectiva mais social e política.

Marcos
: Então essa produção está acontecendo bastante, você diz, dentro de departamentos de teatro e de antropologia. Você vê alguma diferença nos estudos da performance nessas duas perspectivas?

Beth
: Olha, eu tenho frequentado bastante o Núcleo de Antropologia e Performance e, me parece que encontramos bastante afinidades. No núcleo Napedra, por exemplo, eles trabalham com capoeira e a relação do corpo expressivo do homem. Qual a relação entre a capoeira e o corpo expressivo? A relação entre as comunidades mais desfavorecidas e o trabalho com a dança. Então, me parece que existe muita afinidade entre o que se vem pesquisando na pós-graduação nas artes cênicas... tanto nas artes cênicas quanto no Departamento de Antropologia, que é onde está situado o Napedra.

Marcos
: E por conta dessas influências que você citou, você acha que os estudos da performance são percebidos como um campo estadunidense? Ou existe uma produção brasileira também nesse sentido? Como é a percepção desse campo de pesquisa?

Beth: Eu acho que é um campo de pesquisa estadunidense que encontra uma ressonância no território nacional. Eu vejo, por exemplo, em Santa Catarina, que tem uma universidade bastante forte, eu vejo que existe um amplo trabalho voltado para o teatro de rua, o teatro na cidade, a percepção dos corpos na cidade. Então eu vejo que isso já existia antes de se conhecer essa abordagem estadunidense. Então eu acredito que o que emerge, o que vem ao encontro dessa perspectiva conceitual, são fontes que já existem. Só que são envolvidas por essa regularidade de objetos que eu acho que o performance studies compreende.

Marcos
: E existem outras influências além das estadunidenses, que são fortes? Ou, nesse campo de estudos da performance, a maioria das referências vêm desse contexto?

Beth: Eu acho que existem outras influências. Por exemplo, o pós-dramático do Lehmann, eu acho que é uma influência bastante forte. E de certa forma ele serve também como um guarda-chuva, como um leque de possibilidades que reúne diferentes manifestações. Eu acho também que a análise do discurso de natureza foucaultiana também é uma abordagem que estrutura, de certa forma, o discurso artístico.

Marcos: E em termos de produção local? Existe um interesse, em termos de publicações que estejam saindo no Brasil ou teses que estejam sendo escritas e que são interessantes e que estariam dentro de um campo de estudos da performance?

Beth: Eu não saberia dizer exatamente... Acho que essa produção é muito recente ainda. Acho que eu tenho uma certa dificuldade de perceber a produção neste campo específico. Eu acho que existe uma produção muito grande intitulada, ou voltada para, a performance, compreendida aqui como uma manifestação que é híbrida, que mistura linguagem, que não tem fronteira nem teórica nem prática. Então eu acho que ela ainda, no Brasil, ela é muito mais envolvida com o campo artístico.

“[No Brasil] existe um amplo trabalho voltado para o teatro de rua, para a percepção dos corpos na cidade... Eu acredito que o que emerge para a superfície, o que vem ao encontro dessa perspectiva conceitual, são fontes que já existem. Entretanto, elas passam a ser envolvidas por essa regularidade de objetos que eu acho que os estudos da performance compreendem.”


Marcos: E em termos dessa produção acadêmica, quais são as referências que estão sendo usadas? Quer dizer, existem traduções? É um material que está em inglês, ou que está em outras línguas? Ou algumas referências locais? Quais são as referências que você acha que formariam um campo de estudos da performance no Brasil?

Beth: Por incrível que pareça, a maior referência no momento é o Richard Schechner, que eu acho que chega tardiamente no Brasil. Acho que a Diana Taylor é uma outra referência, que também vejo que chega tardiamente. Nós estamos preparando um livro com tradução para o português de textos do Richard Schechner e recentemente houve uma tradução de um livro da Diana TaylorTaylor, Diana. 2013. O arquivo e o repertório: Performance a memória cultural nas Américas. Belo Horizonte: UFMG., que são as maiores fontes, as maiores referências.

Marcos: E pensando um pouco sobre o que seria a formação de um campo de estudos da performance no Brasil, quais você acha que seriam contribuições particulares, ou que tipo de produção de conhecimento que pode acontecer em termos de performance no Brasil que seria mais específico de um contexto brasileiro? Como você vê a produção, talvez, de um campo de estudos da performance brasileiro?

Beth: Eu acho que o próprio teatro é um campo muito forte. Eu acho que o teatro brasileiro é um teatro que mescla as características culturais do Brasil. Então, cada vez mais, eu acho que ele se volta para suas próprias origens, para a sua própria cultura, para os seus costumes, folclore. Então eu acho que o teatro está muito enfeixado sobre a sua própria cultura. E acho que também, em função dessa vertente mais original, vamos chamar assim, eu acho que o teatro se volta para questões sociais e políticas do seu próprio contexto com mais intensidade. Então, eu acho que o próprio teatro, que nós estamos chamando de "teatro performático", ele vem rompendo, ou prolongando, intensificando as suas origens, as origens culturais, e se contextualizando, tendo como base os movimentos sociais e políticos.

Marcos
: E a última coisa que eu queria te perguntar...

Beth
: Mas eu não terminei...

Marcos:
Desculpa...

Beth: Então eu acho que, em função disso, existe uma forte tendência em voltar o interesse para, por exemplo, as comunidades indígenas, para as comunidades dos sem-terra, para os sem-teto. Existe, no teatro, existe uma volta a esses temas com muita força, com muita potência. Então, eu acho que no próprio teatro floresce esse campo perfeito para os estudos da performance, para ampliar o sentido da performance no Brasil.

Marcos
: E a última coisa que eu queria te perguntar é sobre essa palavra "performance", que não é uma palavra do português, e como ela chega, que diferentes significados, e como ela é usada no Brasil.

Beth
: Olha, desde os anos 70 eu ouço falar na palavra "performance", principalmente porque nós tínhamos um grande pesquisador que era o Renato Cohen, que faleceu muito jovem, mas era um grande praticante da performance. Junto com outras pessoas, com o Otávio Donasci, com o Guto Lacaz que eram artistas — e são, ainda estão, com exceção do Renato Cohen — que não só exerciam a performance, faziam a performance na prática, como também teoricamente, que eu acho que é uma herança muito significativa. Então eu acho que a palavra “performance”, ela esteve sempre nessa plataforma híbrida de linguagens artísticas e culturais. E eu acho que ela vem se ampliando cada vez mais, abraçando questões mais políticas e sociais.

Marcos
: Tem mais alguma coisa que você gostaria de acrescentar sobre o assunto?

Beth
: Acho que não.

Marcos
: Muito obrigado.

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