Entrevista com Jill Lane (2007)

Diana Taylor: Você poderia me falar um pouco sobre você?

Jill Lane: Eu tenho um Mestrado em História do Teatro pela Brown University e depois vim fazer um Doutorado em Estudos da Performance aqui na NYU [New York University]. Essa é a minha formação intelectual.

Diana: Fale um pouco sobre como você definiria os estudos da performance.

Jill: Essa é a pergunta de um milhão de dólares, especialmente para nós que temos um Doutorado na área. Minha resposta mais sincera seria dizer que, para mim, é uma estratégia para fazer trabalhos interdisciplinares ou mesmo pós-disciplinares sobre questões relacionadas à cultura corporificada. Eu acho que o que eu quero dizer com isso, ou a razão pela qual eu respondo desta forma, é que eu não vejo os estudos da performance como uma disciplina, por si só, ou – se for uma disciplina – então ela tem uma relação irônica ou crítica com a disciplinaridade. Os estudos da performance nos permitem pensar sobre como nós sabemos o que sabemos sobre o corpo, sobre o teatro, sobre a dança, sobre a expressividade do corpo em diferentes contextos e que, ao invés de oferecer todas as respostas, é uma estratégia para fazer perguntas diferentes e sempre adiar a resposta final, e é por isso que não pode – eu nunca vi os estudos da performance como uma disciplina, eu presumo que disciplinas geralmente fazem isso.

Diana: Você poderia me dizer de que modo os estudos da performance como uma lente ou como um objeto têm sido fundamentais para o seu próprio trabalho?

Jill: Eles têm sido absolutamente fundamentais; foi neles que eu fui treinada, mas porque eu vim do teatro para os estudos da performance, para mim, os estudos da performance me abriram toda uma série de metodologias para situar o teatro em vários outros contextos. Então ao questionar como o teatro se relaciona com os seus contextos social e político - foi como eu vim originalmente para os estudos da performance - porque essas eram as perguntas que eu estava fazendo em certo ponto nos estudos teatrais. Tendo chegado nos estudos da performance, isso foi estratégia para... isso me ofereceu um contexto para realmente trabalhar num nível bem mais profundo e mais complexo sobre a relação entre o teatro e identidades políticas e sociais; e isso foi fundamental para o meu trabalho sobre Cuba no século XIX Lane, Jill. 2005. Blackface Cuba 1940-1895. (Rethinking the Americas). Philadelphia: University of Pennsylvania Press e as relações entre raça e anti-colonialismo, até algumas das pesquisas que eu realizei sobre o ativismo contemporâneo no contexto da globalização. Isso me deu métodos capazes de navegar toda essa diversidade.



Diana: Como você pensa os estudos de performance em relação à raça, por exemplo?

Jill: Eu acho que os estudos da performance nos possibilitam um modo de pensar sobre a construção da raça em si. Não é a única disciplina que apresenta estratégias para se pensar a respeito disso, mas eu acho que, à medida que nós pensamos em raça como sendo sempre um produto de um processo de racialização, a racialização é sempre sobre práticas referentes a e em relação ao corpo. Nesse sentido, eu diria que os estudos da performance têm muito a acrescentar aos atuais debates sobre a teoria crítica da raça, porque, ao invés de falar sobre o corpo de forma abstrata, os estudos da performance nos permitem examinar em detalhes e, de modo analítico, os contextos específicos em que a raça é performada, praticada, negada, confirmada. Então eu acho que tem o potencial e já participa desses debates que estão acontecendo atualmente no campo de estudos étnicos e da teoria crítica da raça, e eu acho que os estudos da performance têm um papel ainda maior a desempenhar aí.

Diana: Ok, bem, muito obrigada.

Jill: De nada.

Comment on this page