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What is Performance Studies?

Diana Taylor, Author

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Catherine Cole





Entrevista com Catherine Cole.

Catherine M. Cole é Professora e Chefe do Departamento de Teatro, Dança e Estudos da Performance da University of California, Berkeley. É autora de Performing South Africa’s Truth Commission: Stages of Transition (2010) e Ghana's Concert Party Theatre (2001). Cole é coeditora do livro Africa After Gender?, uma edição especial de Theatre Survey sobre "Performance Africana e Afro-Caribenha", uma edição especial de TDR: The Drama Review intitulada "Routes of Blackface” (2013) e recentemente colaborou como editora da revista acadêmica Theatre Survey.

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Diana: Oi, Catherine.

Catherine: Oi.

Diana: Você poderia se apresentar, por favor?

Catherine: Tudo bem. Eu sou Catherine Cole e sou professora no Departamento de Teatro, Dança e Estudos da Performance da UC Berkeley [University of California, Berkeley].

Diana
: Então, Catherine, nós estamos realizando este projeto sobre os estudos da performance e sobre o que significa estudos da performance a partir de diversos pontos de vista e em diversas regiões das Américas. Então, como você definiria os estudos da performance e quais seriam algumas das características chave que você destacaria?

Catherine
: Eu acho que às vezes nós gastamos muita energia definindo os estudos da performance, e eu acho que este é um exercício interessante, mas que pode também ser um pouco como um beco sem saída. Então eu me inspirei muito nos seus comentários sobre: “É mais interessante para mim: o que os estudos da performance podem fazer? O que a performance pode fazer?” Quando eu tento explicar para pessoas totalmente fora do nosso campo por que nós somos um departamento de teatro, dança e estudos da performance, eu frequentemente digo: em um programa tradicional de estudos teatrais ou de estudos da dança, nós limitaríamos o nosso objeto de estudo; talvez somente o que ocorre no palco, talvez pudéssemos incluir também a plateia, mas de qualquer modo existiria uma fronteira. E eu acho que os estudos da performance realmente rompem com essas demarcações, expandem o objeto de análise de formas muito interessantes, empolgantes e produtivas, e também de formas confusas — pode haver confusão produtiva e confusão improdutiva, e nós buscamos evitar isto. Então eu acho que, no meu próprio trabalho, o meu mais recente projeto de grande porteCole, Catherine M. 2010. Performing South Africa's Truth Commission: stages of transition. Bloomington: Indiana University Press. foi sobre a Comissão da Verdade e Reconciliação, na África do Sul. E eu fiquei muito intrigada com a decisão deles de montar algo logo após o fim do Apartheid, rumo ao desejo de uma visão democrática não racial no futuro — e eles sentiam que precisavam fazer algo — foi adotar um modelo de comissão da verdade. Isso aconteceu em outras partes do mundo, mas nunca uma comissão da verdade aceitou tão abertamente estar nos palcos, em frente ao público, aparecer no rádio, aparecer na televisão. E eu tinha certeza, como profissional dos estudos da performance, que isto moldaria profundamente a experiência do evento, a percepção do evento. Mas ainda assim eu pude perceber, apesar de todas aquelas pessoas estarem escrevendo sobre a comissão da verdade da África do Sul, ninguém estava realmente pensando a respeito disso — a não ser uma observação do tipo “a propósito ... isto não é como teatro?” — pensando mais profundamente sobre isso. Então, para mim, com esse projeto eu me empolguei com a possibilidade de contribuir, a partir do nosso campo, com um campo mais amplo dentro da academia — estudos jurídicos, estudos políticos, muitas pessoas que escrevem sobre isso são cientistas sociais — para de fato poder dizer às pessoas que para entender o que está acontecendo nesse processo de comissão da verdade, na realidade todos nós precisamos entender a performance. E aqui estão algumas ideias, técnicas, metodologias, percepções e possibilidades oriundas desse campo. Então, poder contribuir com outras disciplinas, e além disto, o que tem sido tão empolgante sobre esse projeto é a possibilidade de contribuir fora da academia que, sabe, as pessoas estão estudando a justiça transicional em outras partes do mundo; a capacidade de trazer para o debate reflexões ricas a partir do nosso campo.

Diana
: Lembro-me que em Eichmann em Jerusalém, de Hannah ArendtArendt, Hannah. 1963. Eichmann in Jerusalem: a report on the banality of evil. New York: Viking Press., ela descreve o julgamento como praticamente um teatro, com um palco como este, mas ela é tão contra isso. Ela escreve, sabe, derruba isso como uma espécie de teatralidade, como algo que nos distrai da missão de justiça. E aqui na sua obra, é como se esse fosse o lugar onde a missão da justiça poderia ser conduzida, e tem que haver alguma coisa sobre dar nomes e mostrar. Então, qual a sua percepção acerca da justiça, da revelação da verdade e da teatralidade? Você gostaria de descrever isso?


Catherine: É sempre carregado. Eu acho que a diferença realmente significativa no caso de Eichmann em Jerusalém é que é um julgamento. É um julgamento. E o que ela está contestando também, em parte, é que esta única pessoa está tendo que responder por crimes que, sim, ela cometeu, mas também por crimes muito além do que ela cometeu. E isso está acontecendo porque, depois de graves violações aos direitos humanos ou crimes contra a humanidade, há uma necessidade de se reformular a memória pública. É preciso haver um discurso público que alcance o nível nacional, ou até mesmo além, e os julgamentos não deveriam ser isso — isso é uma corrupção da justiça, de certo modo. Aquele julgamento de uma pessoa deveria tratar daquela pessoa e seu crime. Então eu acho que isso é, sabe, aquele ponto de incômodo. Agora, até… E é por isso também, logicamente, que frequentemente os juízes não querem câmeras em seus tribunais e controlam mesmo o que a mídia pode fazer lá dentro, não querendo distorcer a justiça ao incorporar, de certo modo, todos esses outros elementos. Isso não significa, no entanto, que julgamentos, mesmo julgamentos bem tradicionais, não sejam eventos altamente teatrais e performativos e que tudo isso não seja parte da sua função, absolutamente. Mas eu acho que o preconceito, talvez anti-teatral, de Hannah Arendt, ou o seu distanciamento desses aspectos de Eichmann em Jerusalém, eu compreendo isso. Eu entendo. Enquanto na justiça transicional, as comissões da verdade e reconciliação, elas não são julgamentos, certo? Quer dizer, essa é a diferença. Quer dizer que a magnitude dos crimes contra — graves violações de direitos humanos, crimes contra a humanidade — na verdade, o nosso entendimento tradicional da lei não é capaz de lidar com crimes dessa escala. Então alguma outra coisa tem que ser inventada para desempenhar essas outras funções, para moldar o discurso público e... então não é um julgamento. Há muitos gêneros diferentes que influenciam isso, inclusive certos modelos jurídicos, e haviam componentes da Comissão da Verdade em que algo estava em jogo juridicamente, alguém poderia ser anistiado pelos seus crimes para sempre, de modo que há um componente legal, algo está em jogo. Mas isso é diferente, eu acho, de uma corte jurídica tradicional. Então você só… Quer dizer, é tudo performance. Só que... qual a natureza dessa dinâmica, e que função ela desempenha, e com que propósito, isso realmente muda em relação ao contexto.

"E eu tinha certeza, como profissional dos estudos da performance, que isto moldaria profundamente a experiência do evento, a percepção do evento. […] E eu me empolguei com a possibilidade de […] poder dizer às pessoas que para entender o que está acontecendo nesse processo de comissão da verdade, em realidade nós precisamos entender a performance."


Diana: Então quais são alguns dos outros debates, os grandes debates no campo dos estudos da performance, que você acompanha, nos quais você está engajada, e que você sente que há algo em jogo ali e se, sabe, você pensa de um jeito ou de outro sobre o assunto?


Catherine: Sabe, há tantos... Nós somos um campo de debates. Eu acho que no momento… Eu acho que eu preciso me reorganizar em relação à sua pergunta.

Diana: Bem, a internacionalização é um.

Catherine: Eu sinto que há pontos cegos. Eu sinto que há pontos cegos, e é muitas vezes frustrante pra mim ir a conferências no meu campo — como alguém que trabalha no sul global — e perceber que o sul global é tão frequentemente sub-representado. Eu sinto que às vezes… Nós caímos perigosamente em uma espécie de formalismo, ou solipsismo, ou definitivamente “norte-americanocentrismo”. Então é nessas direções que eu realmente gostaria de nos ver caminhar, quero dizer, a sua obra tem sido uma grande inspiração para mim neste sentido. Eu acho que essas são conversas que precisam acontecer, que precisamos nutrir e cultivar. No momento, eu tenho todo esse projeto maluco que parece totalmente não relacionado; trabalhando com fotografias em torno da educação pública de nível superior. Eu tenho usado fotografias como uma espécie de prática social para gerar conversas que são às vezes conversas difíceis, conversas realmente necessárias, e eu acabei… É todo um arquivo de fotografias que Ansel Adams tirou do Sistema da University of California — 6700 imagens nos anos 60 — e ele tinha toda uma ideia de negativos como sendo uma espécie de partitura, uma partitura musical. E, apesar de que ele era muito controlador em relação a tudo que tinha a ver com os seus impressos, ele queria que as pessoas executassem a partitura dos seus negativos de maneiras que você nem reconheceria. Então eu estou realmente interessada nesta ideia: o que significa executar a partitura, convidar pessoas a executar a partitura? Então eu penso que o que eu estou fazendo, eu sinto que eu caminhei para esta maneira completamente diferente de trabalho acadêmico que, eu vejo hoje, é quase pesquisa multiplataforma — eu não tinha a intenção de fazer isso, mas…— incluindo websites, curadoria e exibições, criando todo tipo de interatividade, também publicando. E tudo isso é performance. É como fazemos performance a partir da partitura dessa instituição; como fazemos performance a partir da partitura desse arquivo e recriamos ele, usamos ele para recriar o presente, para recriar o futuro.

Diana: Soa fantástico. E em relação à internacionalização, como você acha que nós vamos conseguir envolver diferentes tipos de acadêmicos, com diversas formações, e assim por diante numa discussão, talvez não necessariamente denominada estudos da performance, mas que reflita sobre a prática corpórea? Que tipos de projetos que podem esclarecer em diferentes partes do mundo? Você acha que isso vai ser possível, o que você acha?

Catherine
: Eu acho que o que vocês têm feito com o Instituto Hemisférico é realmente um modelo. Quer dizer, às vezes fico com inveja: puxa vida, eu queria ser uma latino-americanista e poder entrar nessa.

Diana
: Nós podíamos fazer o Hemi África, sabe?

Catherine: Sim, seria fantástico ter isso na África. E eu acho que as novas mídias estão meio que possibilitando isso de um modo que seria inimaginável há dez anos, cinco anos. Há muitos mais intercâmbios artísticos interessantes acontecendo no continente e diferentes tipos de conversas rolando. Então, sabe, isso nos traz de volta à obra de Ngugi wa Thiong’o sobre deslocar o centro, sabe… Onde a conversa ocorre determina tantas coisas, porque determina quem pode vir, e como eles podem vir, e quem estabelece a agenda. Então eu sinto que todo ano o que é possível está expandindo, então nós nem sabemos ainda para onde isso vai nos levar. Mas eu acho que ter essas espécies de plataformas diferentes, que as pessoas estão criando, que nos ajudam a mover o centro, é realmente essencial.

Diana: Lembro-me da primeira vez que eu encontrei você e a primeira conversa que nós tivemos, que foi bem no princípio do PSi [Performance Studies international], e tentando descobrir o que seria a parte internacional.

Catherine: Com um “I” maiúsculo, um “i” minúsculo…

Diana: …um “i” minúsculo… Nós tivemos essa conversa por um longo tempo. Eu espero que possamos continuá-la por muito tempo, e veremos isso ir muito mais além do que podemos imaginar hoje.

Catherine
: Sim.

Diana: Muito obrigada.

Catherine
: Obrigada pelo convite.


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