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What is Performance Studies?

Diana Taylor, Author

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Diana Taylor








Entrevista com Diana Taylor (2002)
Diana Taylor é professora no Departamento de Estudos da Performance e no Departamento de Espanhol da New York University, e também Diretora Fundadora do Instituto Hemisférico de Performance e Política. É autora de Theatre of Crisis: Drama and Politics in Latin America (Kentucky University Press 1991), o qual recebeu o Prêmio de Melhor Livro do New England Council on Latin American Studies e Menção Honrosa no Prêmio Joe E. Callaway Prize por Melhor Livro em Teatro. É também autora de Disappearing Acts: Spectacles of Gender and Nationalism in Argentina's "Dirty War" (Duke University Press 1997), e de The Archive and the Repertoire: Performing Cultural Memory in the Americas (Duke University Press 2003) o qual recebeu o prêmio ATHE Research Award em Prática do Teatro e Pedagogia e o prêmio Modern Language Association Katherine Singer Kovacs Prize por melhor livro em literatura e cultura latino-americana e espanhola. É também editora, com Sarah J. Townsend, de Stages of Conflict: A Critical Anthology of Latin American Theater and Performance (University of Michigan Press 2008) e co-editora de Holy Terrors: Latin American Women Perform (Duke University Press 2004), Defiant Acts/Actos Desafiantes: Four Plays by Diana Raznovich (Bucknell University Press 2002), Negotiating Performance in Latin/o America: Gender, Sexuality and Theatricality (Duke University Press 1994) e The Politics of Motherhood: Activists from Left to Right (UPNE 1997). Suas publicações em espanhol incluem Performance (Asunto Impreso, 2012) e uma antologia de importantes ensaios de estudos da performance editada com Marcela A. Fuentes, Estudios avanzados de performance (Fondo de Cultura Económica 2011). Diana Taylor já editou cinco volumes de ensaios críticos sobre dramaturgos latino-americanos, latinos e espanhois. Seus artigos foram publicados em Critical Inquiry, PMLA, The Drama Review, Theatre Journal, Performing Arts Journal, Latin American Theatre Review, Estreno, Gestos, Signs, MLQ e outras publicações acadêmicas.X


Barbara Kirshenblatt-Gimblett: Diana, como você definiria os estudos da performance?

Diana Taylor
: Bem, eu acho muito difícil definir os estudos da performance, porque eles são claramente formados por várias disciplinas e diferentes modos de pensar sobre comportamento corporal. Temos a antropologia, temos a sociologia, temos a fenomenologia, temos a escola francesa, de [Jean-François] Lyotard em diante, tratando da performance. Por isso eu acho difícil definir se é somente um objeto de análise, se é uma praxe, se é uma episteme, um meio de conhecimento, se é uma transação comercial, se é uma medida de eficácia. O que importa para mim em relação à performance, e aos estudos da performance, é que ela nos permite olhar para todas essas coisas como se constituindo mutuamente, de maneira que não dá para pensar sobre comportamento e práticas corporais sem pensar sobre performances disciplinares – como construímos gênero, como construímos raça, e como somos construídos como corpos – mas ao mesmo tempo há um aspecto verdadeira e maravilhosamente libertador e contestatório, porque podemos performar de maneiras diferentes; a performance refere-se a uma ação, a uma intervenção, a uma quebra estrutural e a uma busca de novas alternativas. Por isso eu acredito que os estudos da performance não são uma coisa específica, e que a sua polivalência é, na realidade, o que há de mais promissor nesse campo.

BKG
: Agora, em relação ao seu próprio trabalho, o que significou para você trabalhar no contexto de um campo chamado “estudos da performance”?

Diana
: É interessante, porque eu vim para os estudos da performance porque esse era o único lugar onde eu queria estar. Eu comecei pensando sobre teatro no contexto da América Latina, e tudo o que eu ouvia era que o teatro na América Latina não era interessante, que ele era derivativo, que ele apenas seguia os modelos coloniais. E eu ficava pensando: mas há tantos exemplos de performances nas Américas que não são “teatro” propriamente dito – eu ainda acho que há muito teatro excelente na América Latina – mas isso é... eles são apenas uma pequena parte de todas as coisas relacionadas com a performance. Então, para mim, eu cresci além dos limites do meu ramo, se pensarmos nele como “Teatro Latino-Americano”, e tive que analisar a performance como um meio através do qual a performance popular impactava o que estava ocorrendo na esfera pública, se pensamos em como os grupos excluídos, talvez alguns grupos indígenas, às vezes afro-americanos – no sentido mais amplo do termo afro-americanos – grupos de mulheres, que normalmente não são representados no teatro latino-americano, como as suas performances cruzam ou intervêm no espaço público. E então tornou-se muito mais interessante para mim observar essas tensões entre a performance e todos os outros espaços. E por isso os estudos da performance, como um termo capaz de englobar o teatro, o ritual, a dança e a performance pública, tornou-se um extraordinário meio de combinar todos esses materiais.

BKG: Agora o que significa para você lecionar no contexto dos estudos da performance?

Diana
: É maravilhoso. É difícil, de certo modo, porque eu acho que os estudantes muitas vezes vêm para os estudos da performance com um entusiasmo incrível pelo que eles consideram o seu enfoque radical. Os estudos da performance é um campo que nunca se constituiu como um campo propriamente dito, ele sempre tratou de cruzar os limites e quebrar as fronteiras. E portanto há um maravilhoso entusiasmo em torno disso, e eu acho que a tensão que nós encontramos é que, logicamente, como um departamento, situado numa instituição, nós temos que argumentar que somos nosso próprio campo – e que temos, sabe, exames e que o trabalho realizado nesse campo é de alguma forma diferente do trabalho realizado em outros campos. E, de certo modo, as exigências institucionais acabam criando as suas próprias fronteiras. Portanto, há essa tensão entre as limitações impostas, eu acredito, por qualquer tipo de estudo realizado no âmbito acadêmico e a promessa de cruzar fronteiras que o campo oferece. E eu não creio que essa seja uma tensão que será resolvida um dia, mas uma que nós ensaiamos em sala de aula o tempo todo. E eu acho que isso é muito bom para os estudantes também, porque eu acho que assim eles podem vislumbrar o que eles estão lutando contra e onde eles podem, de certo modo, extrapolar ou fazer a sua própria intervenção. E isso lhes oferece uma fronteira, eu acho, contra a qual lutar.

BKG: E você acha que os estudos da performance lhe estimula a desenvolver uma pedagogia particular?

Diana: Sim. Eu acho que é muito importante, já que não estamos lidando somente com sistemas discursivos nos estudos da performance, mas também sistemas performativos ou performáticos – como eu prefiro chamar – e também estamos lidando com sistemas digitais. Então não há uma única maneira de se pensar sobre o conhecimento, e não há uma única maneira de... de se realizar o processo de transmissão do conhecimento ou de criação do conhecimento. Então uma das coisas que eu gosto muito sobre esse departamento é que – nós escrevemos muito, é claro – mas eu acho que há também um verdadeiro esforço no sentido de pensar na performance e na prática da performance como a sua própria forma de transmissão de conhecimento. E há também uma ênfase cada vez maior neste departamento nos espaços digitais, virtuais, e como nós podemos intervir neles, e como a corporificação acontece nesses espaços, o que nós podemos pensar quando pensamos, por exemplo, em raça ou gênero online, onde, você sabe, ninguém tem um “corpo” como tal. Então eu acredito que manter todos esses diferentes sistemas juntos constitui um enfoque pedagógico extraordinariamente rico, que apresenta várias maneiras diferentes de se abordar alguns desses questionamentos.

“O que importa para mim sobre a performance, e sobre os estudos da performance, é que nos permite ver o comportamento, a prática incorporada e as performances do tipo disciplinares: como representamos o sexo, como representamos a raça e como somos construídos como corpos. Mas, ao mesmo tempo, há nisso um aspecto liberatório e contestatório ... a performance trata-se de uma ação, de uma intervenção, de uma quebra estrutural e de uma busca por novas alternativas.”


BKG: Você poderia nos dar um exemplo de um dos seus cursos?

Diana: Bem, por exemplo, eu ensino uma série de cursos no Instituto Hemisférico de Performance e Política. E esses cursos são colaborativos, porque são lecionados em conjunto com outras instituições na América Latina. Então nós temos algo como cinco cursos diferentes sendo oferecidos simultaneamente nas Américas. Eles são colaborativos também porque os alunos desenvolvem projetos colaborativos na web, de modo que eles têm que se familiarizar com novas pedagogias, novas pedagogias tecnológicas, por exemplo, novo conteúdo, porque estão analisando o material de maneira comparativa – o que está acontecendo no México, ou no Peru, ou no Brasil, ou nos Estados Unidos, por exemplo. É também importante, eu acho, porque estamos todos fazendo leituras compartilhadas e eu acho que o compartilhamento de certas leituras torna bem claro quais são as diferentes discussões em diferentes posições – nós não estamos todos lendo esses materiais da mesma maneira. E a criação de um arquivo digital no final, os projetos nos quais eles estão trabalhando, é uma maneira de pensar sobre como você transmitiria esse conhecimento por outros meios, não necessariamente apenas através de materiais escritos exploratórios. Isso realmente nos desafia a pensar sobre como nós estamos transmitindo o material e interagindo e colaborando em um processo que é dinâmico, ao invés de pensar no conhecimento como algo que já está ali, claramente delimitado e transferível como um pacote ou um objeto. Então eu acho que isso representa o melhor exemplo dos diferentes modos de se reunir esses sistemas.

BKG
: E que papel a criação de performances desempenha nas suas aulas?

Diana: Nós não temos trabalhado muito criando uma performance, no sentido que os estudantes muitas vezes são performers, mas o que nós analisamos na sala de aula não é a criação de performances. Mas a criação de performances é uma parte vital para outras partes do nosso projeto, ou seja no departamento nós sempre temos apresentações de performances ao vivo, temos eventos, os nossos alunos participam de eventos, e também no Instituto Hemisférico nós temos vários eventos e oficinas sobre a performance. E portanto está sempre subentendido que o modo pelo qual nós aprendemos através dos nossos corpos e o modo pelo qual nós participamos como audiência, como estudantes, como testemunhas, como participantes em geral é vital para o tipo de trabalho que nós podemos fazer juntos. Então a vida e o ao vivo estão muito presentes, seja no contexto de uma performance ou mesmo numa sala de aula.

BKG
: E agora, a última pergunta, o que você pensa sobre o valor ou a importância dos estudos da performance dentro do contexto universitário mais amplo?

Diana
: Eu acho que os estudos da performance constituem, de fato, um dos pouquíssimos projetos interdisciplinares que realmente deram certo no mundo acadêmico, porque eu acho que ele estabeleceu um novo paradigma para a aprendizagem. E eu digo isso porque nós já tivemos outros projetos interdisciplinares, se você quiser, como a literatura comparada, por exemplo, que reúne diferentes línguas... literaturas nacionais e as analisa – o que é ótimo, e eu adoro isso, e eu mesma fiz muito desse tipo de trabalho. Mas eu acho que, nos estudos da performance, nós estamos lidando é com um modo diferente de pensar sobre o conhecimento, e isso nos abre um espaço que nos permite dizer que você poderia ter uma análise ou lente teórica dos estudos da performance que poderia analisar a história, você poderia analisar a economia, você poderia analisar a lei, você poderia analisar a medicina. Então o que nós estamos oferecendo não é um conjunto de trabalhos, como poderia ser o caso da literatura nacional, ou um cânon. Estamos oferecendo uma metodologia que põe em discussão essas diferentes áreas, e eu acho que essa é uma forma muito importante de se pensar sobre... não um mundo pós-disciplinar – porque eu acho que o mundo acadêmico está profundamente delimitado por disciplinas – mas é uma forma de atravessar as fronteiras e conversar uns com os outros, o que nos traz de volta à primeira pergunta que você me fez: o que são estudos da performance? E são todas essas coisas juntas. Então, quanto mais nós pudermos problematizar as nossas compreensões do que fazemos através da observação do comportamento corporal, eu acho que poderemos criar um novo mundo de... de... ou melhor trazer um outro mundo para ser considerado pelos estudos da performance dentro da esfera acadêmica – que somente valoriza, ou melhor, que valoriza principalmente o conhecimento escrito, e assim por diante. Então aqui tem toda uma outra área que pode ser examinada a partir de todos esses espaços, e nos oferecer, acredito eu, uma maneira completamente diferente de pensar sobre o conhecimento.

BKG
: Obrigada.

Diana
: Obrigada.

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